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Feira de histórias: sobrevivência através do empreendedorismo na feira 307 norte 

“Aqui é pra quem tem coragem e vontade de trabalhar”, expressa Maria da Conceição, feirante há 28 anos

A capital do Tocantins, Palmas, abriga sete feiras localizadas nas regiões norte, central e sul. As feiras possuem um importante papel para a sociedade na geração de empregos e na movimentação da economia local. Diversos feirantes erguem empreendimentos nesses comércios, e a partir destes negócios obtêm sua principal ou única fonte de renda. 

A feira municipal da quadra 307 norte, que acontece das 8h de sábado às 13h de domingo, é mais do que um ponto de vendas, o espaço localiza histórias de sobrevivência através do empreendimento popular. 

Este é o caso de Simone Lopes de Oliveira Pimentela, 37 anos, que gerencia o restaurante “Sabor do Norte” na feira coberta da 307 norte. O restaurante é uma herança familiar empreendida na feira da antiga arno 33 há quase 30 anos. Há sete anos, Simone administra o restaurante que antes foi de sua mãe, Maria da Conceição Lopes, de 67 anos.

Foto: Mireia Carvalho

“Eu vivo daqui, tudo que eu tenho é daqui” (Simone Lopes)

A palmense relata ter o negócio na feira como sua única fonte de renda, e que a partir do restaurante ela conquistou tudo que tem hoje: “A minha vida é aqui, tudo que eu tenho veio da feira”.

Apesar dos  outros diversos comerciantes, Simone não enxerga a feira como um local de concorrência, ela diz ter espaço para todos. “É uma feira que gera muito rendimento, vem muita gente aqui. Já tô aqui há muito tempo e sinto que todos já têm seus clientes fiéis. Tem espaço pra todos”, declara. 

Durante o período pandêmico, Simone necessitou fechar o restaurante, sua renda para sobreviver no período de quarentena veio das economias reservas. “Fiquei fechada durante um ano. A feira fechou totalmente. A fonte de renda que eu sempre tive foi aqui, aí eu tinha um dinheiro guardado e fui sobrevivendo com o que tinha”, relata a comerciante.

“A feira foi quem ajudou a criar meus três filhos” (Maria da Conceição Lopes)

Foto: Mireia Carvalho

Assim como sua filha Simone, Maria da Conceição Lopes também obtinha o restaurante como sua principal fonte de renda, “Um salário mínimo não dá pra quase nada, e aqui eu tirava mais”, desabafa Maria.

O restaurante construído por Maria da Conceição Lopes, em 1998, foi de início, em parceria com uma amiga, e após o falecimento do marido de sua parceira, Maria passou a cuidar do restaurante sozinha. “Meus meninos eram todos pequenos e eu tocava aqui, sempre batalhando, nunca desisti da feira”, relata a sra. Lopes.

Por 16 anos, Maria trabalhou na Secretaria da Educação durante a semana, e aos fins de semana trabalhava no restaurante na feira, que, na sua época, era nomeado como “Massa e Panela”, e após Simone herdá-lo tornou-se “Sabor do Norte”. Através da feira, ela aumentou seu rendimento financeiro e conseguiu sustentar seus filhos, “Eu agradeço muito a Deus por ter me dado a oportunidade de adquirir um canto aqui na feira, porque foi como sustentei meus filhos, criei os três daqui”, diz a pioneira do negócio com muita emoção.

Maria afirma a importância da feira para a população como emprego único, ela diz ser possível sim adquirir uma fonte de renda para conseguir se sustentar. A partir de sua experiência, ela novamente agradece pela oportunidade de empreender na feira: “Quem quiser reclamar, pode reclamar de feira, mas eu não reclamo, ela me ajudou muito, muito mesmo. O que eu tenho, agradeço a aqui”, finaliza. 

“Tem possibilidade de expansão e você trabalha pra si mesmo” (Daiane Silva)

Foto: Mireia Carvalho

Daiane Silva, 32 anos, feirante há 15 anos, conta que desde que chegou a Palmas esteve dentro das feiras. Sua mãe foi feirante desde que chegaram à Capital, e a partir da feira criou ela e os irmãos. Após crescerem, a família ampliou o negócio e hoje dividem os tipos de produtos que cada uma vende nestes comércios.

É da  feira que vem o sustento da família, ela conta que a partir dali conquistaram sua casa própria e, se ampliarem o negócio novamente, continuarão no ramo das feiras, “Muita gente aqui começou andando de frete, e daqui conseguiram seu carro próprio, expandir seu negócio… tem gente que já comprou casa própria, que foi o nosso caso também”.

“Antes era bagunçado, mas hoje tudo é legalizado e todos tem seu cantinho” (Neuza de Jesus)

Foto: Mireia Carvalho

Neuza de Jesus, 58 anos, começou a vender nas feiras em 1996, quando ainda era feira aberta nesta região. Ela fala sobre como a estrutura e segurança melhoraram no decorrer dos anos, desde sua chegada: “Aqui não tinha estrutura de nada, era barro, não tinha toda essa estrutura que tem hoje. As coisas eram mais difíceis, mas hoje tá mais facilitado, tá melhor, mais estruturado, tem segurança, tem mais pessoas e com responsabilidade”, conta a comerciante.

A feirante relata que atualmente esta  também é sua única fonte de renda, ela expõe ainda que apesar de ter evoluído, o local tem potencial para melhorar ainda mais, como o piso e sua estrutura, “Dependendo da estruturação que o governo fizer com nós, pode se tornar um negócio ainda melhor. Do jeito que tá, tá bom, mas se melhorarem o sistema, ficará melhor ainda”.

“As feiras ajudam quem não tem qualificação de trabalho” (Deusiano Pereira)

Foto: Mireia Carvalho

Para muitos, a comercialização nas feiras começou devido a necessidade de uma fonte de renda a mais, e com o passar dos anos, ali tornou-se um de seus principais meios para se sustentar, às vezes, o único. Deusiano Pereira da Silva, 55 anos, começou a vender na feira em 2005 para ajudar sua mãe, e hoje, 20 anos depois, permanece lá vendendo suas farinhas, sendo uma de suas principais fontes de renda.  

Jaime Claro, de 90 anos, também tornou-se feirante em 2005 vendendo farinha. Ele fala sobre sua experiência sobre como no início vendia muito mais farinha. Mas hoje, devido ao aumento de vendedores, as coisas ficaram mais difíceis, “mas, ainda dá pra ir me mantendo” acrescenta sr. Jaime. 

Foto: Mireia Carvalho

O empreendimento nas feiras é uma realidade muitas vezes esnobada pela população  devido a localidade. As feiras atuam diretamente na movimentação da economia local, e a partir de seus pequenos comércios, os feirantes puderam transformar suas vidas, sendo exemplos de superação através de suas realidades. 

As feiras são além de um ponto de vendas, um local repleto de histórias. Além disso, muitas vidas já foram salvas devido à renda gerada nesse caloroso comércio. Para pessoas que necessitavam de uma renda extra ou não conseguiam um trabalho, iniciar o trabalho nas feiras foi o que os salvou das dificuldades. 

As feiras são polos de empreendedorismo popular, inclusive, com a validação desse status, por parte do poder público. Em janeiro de 2025, as feiras livres do Tocantins foram reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado, ressaltando sua importância para a sustentabilidade social e econômica do Tocantins, além da preservação das culturas das comunidades. 


Mireia Carvalho

Escritor

Aluno de jornalismo

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