O acesso excessivo e sem supervisão às telas aumenta a predisposição de crianças entrarem em contato com conteúdos inapropriados, além de causar danos à saúde e favorecer a dependência digital
As telas têm se tornado uma presença cada vez mais constante no cotidiano das crianças. Estudos comprovam que o uso excessivo de tecnologias durante a infância pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil. Durante a exposição prolongada às telas, o contato e a comunicação da criança com as pessoas ao seu redor diminuem e a comunicação é essencial desde os primeiros anos de vida para o desenvolvimento da fala e da compreensão.
O contato excessivo com dispositivos digitais super estimula os sentidos das crianças, especialmente a visão e a audição. A psicóloga clínica infantojuvenil Andréa Nobre explica que a grande quantidade de estímulos visuais e sonoros acaba saturando os sentidos. Com isso, quando a criança recebe outros estímulos sensoriais, seus receptores já estão sobrecarregados, o que reduz sua capacidade de resposta e provoca o afinamento do córtex pré-frontal.
“Essa região do cérebro é responsável pelo processamento das informações dos cinco sentidos. Ela também está relacionada à tomada de decisões, ao controle das emoções e à manutenção da atenção. Por isso, as crianças ficam mais irritadas, têm crises quando são privadas das telas e apresentam dificuldade de concentração. Normalmente, o afinamento do córtex pré-frontal ocorre apenas no processo de envelhecimento”, explica a psicóloga.

Andréa Nobre ressalta, no entanto, que o uso das telas, quando feito de forma adequada, pode trazer benefícios. Por exemplo, desenhos infantis com conteúdo apropriado e linguagem acessível podem ser uma ferramenta lúdica para a aprendizagem. “Quando bem direcionado, um bom desenho, com conteúdo e imagens adequadas, pode sim contribuir para o desenvolvimento da criança. Mas é fundamental que haja a mediação de um adulto, que converse com a criança sobre o que está sendo assistido”, pontua.
A professora Renata Ferreira, que participou do curta-metragem “Inversão”, de Túlio Mélio — uma produção que aborda a temática do uso das telas na infância, contrastando a realidade atual com tempos em que a tecnologia não era tão presente —, faz uma reflexão sobre a obra:
“O filme traz essa provocação para nós, enquanto professores, adultos e até para as próprias crianças, para repensarmos o papel e a influência dos artefatos tecnológicos em nossas vidas. Ele nos convida a refletir sobre o quanto esses recursos estão impactando nossa saúde mental, nossa qualidade de vida e, até mesmo, o equilíbrio do planeta”.