A recente prisão do cantor MC Poze do Rodo reacendeu um debate: por que a imagem do funkeiro, especialmente quando é um jovem negro e periférico, continua sendo automaticamente associada ao crime? Antes mesmo de qualquer julgamento formal, as redes sociais e parte da imprensa já haviam condenado o artista, com base em estereótipos que insistem em sobreviver no imaginário coletivo brasileiro.
MC Poze, como tantos outros que ascendem por meio da música, representa uma parcela da juventude que encontrou no funk uma forma legítima de expressão, renda e visibilidade. No entanto, essa ascensão é frequentemente vista com desconfiança. É como se o sucesso vindo das favelas precisasse, por algum motivo, ser desacreditado — ou, pior, criminalizado.
O sistema penal brasileiro, notoriamente seletivo, parece agir com mais rapidez e severidade quando os envolvidos vêm das classes mais pobres. Enquanto isso, crimes cometidos por pessoas brancas e ricas frequentemente enfrentam um caminho mais lento e brando.

O funk, apesar de todas as críticas que recebe, é uma expressão cultural potente, que denuncia a realidade das comunidades e oferece oportunidades onde o Estado muitas vezes não chega. Criminalizar seus representantes é, de certo modo, tentar calar vozes que incomodam por dizerem verdades duras.
As alegações contra MC Poze devem, sim, ser investigadas com seriedade e dentro da legalidade. Mas o que não se pode permitir é que isso seja mais um capítulo da velha prática de criminalizar corpos, culturas e trajetórias que fogem ao padrão dominante. Julgar é papel da Justiça — e não da opinião pública alimentada por preconceitos.