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Hochschild no Tocantins: os impactos ambientais da mineração devem preocupar os tocantinenses

O Governo do Estado do Tocantins anunciou, recentemente, o projeto de mineração de ouro na cidade de Monte do Carmo, avaliado em 250 milhões de dólares, equivalente a aproximadamente 1,4 bilhão de reais. Monte do Carmo está a cerca de 90 km da capital Palmas, e conta com pouco mais de 5 mil habitantes, com a nova proposta estadual, a mina de ouro será mais um dos 30 projetos de mineração no Tocantins.

Ainda segundo o governo, além da quantia substancial de verba arrecadada, por volta de 2 mil empregos serão criados em decorrência do projeto, de forma direta e indireta. A exploração da riqueza mineral será feita, após comprar os direitos da Cerrado Gold, pela empresa Hochschild, que possui sede no Reino Unido, mas tem diversos projetos de mineração na América Latina, com destaque para o Peru.

O tempo estimado da mineração é de 12 anos, envolvendo uma área de 82 mil hectares, ou 114.829 campos de futebol. Além da nova mina em Monte do Carmo, a empresa mineradora já tem atividades mineradoras de ouro no Brasil, em Mara Rosa, no estado de Goiás.

Tanto o Governo do Estado quanto a empresa Hochschild ao comentarem sobre a atividade destacam o enfoque na “exploração mineral sustentável”. Mas, afinal, o que é uma mineração sustentável? É possível realizá-la?

Para a empresa Hochschild, as ações “sustentáveis” se traduzem em propostas de ensino inclusivo e igualitário, proteção ambiental das águas e restauração do ecossistema, além da proteção de direitos trabalhistas. Porém, nos últimos anos, a empresa descumpriu todas as metas “sustentáveis” que buscou assegurar.

Hochschild e sua mineração não sustentável

Em 2021, o Governo do Peru entrou com ações jurídicas para fechar várias minas concedidas a Hochschild no país. O governo peruano alegou severos impactos ambientais da empresa na região, causados pelas ações exploratórias de ouro e prata. Entre as acusações estavam o desmatamento e a poluição por mercúrio causadas pelas minas nas regiões sul da cidade de Ayacucho.

Durante o caso, a empresa alegou que manteve os “mais altos padrões ambientais” e que a repentina vontade do Governo do Peru de impedir a expansão das minas na região foi um choque. Além disso, Ignacio Bustamante, chefe executivo da Hochschild, em entrevista para o The Guardian, comentou que iria, através dos meios jurídicos, lutar contra a decisão governamental de fechamento das minas de Pallancata e Inmaculada.

Foto: Mina Inmaculada, no Peru / Hochschild Mining.

Ainda em defesa das minas de ouro e prata na região, a empresa destacou que, a partir da ação exploratória, gerava diretamente cerca de 5 mil empregos e indiretamente cerca de 40 mil. No mesmo ano, comunidades indígenas locais protestavam contra a Hochschild.

Na época, a disputa entre o governo peruano e a empresa mineradora foi perdendo força. A princípio, os planos governamentais eram de fechar totalmente as minas de Pallancata e Inmaculada, contudo, após conversas com a Hochschild, os órgãos públicos deixaram claro que seria possível que a mineração continuasse caso fossem respeitadas as leis ambientais do país.

Diante disso, as comunidades Apumayo e Breapampa entraram em conflito com a empresa do Reino Unido. Che Bernaola, um dos líderes das comunidades locais de Ayacucho, disse à Reuters que devido à mudança de posição do governo referente ao fechamento das minas de ouro e prata, as comunidades locais começaram protestos. Ele é uma das principais vozes contrárias à mineração na região, denunciando a poluição das águas que abastecem os povos locais.

Essa não foi a primeira vez que a exploração mineral no Peru, feita por multinacionais, deixou as comunidades locais do país sem acesso à água potável. Em fevereiro de 2025, uma matéria feita pelo The Guardian acompanhou personalidades da pequena vila de Challhuayaco e ouviu suas histórias de como a atividade mineradora da empresa Antamina está os deixando sem água.

Foto: Carlos Flores, morador de Huarmey, próximo a mina de zinco da Hochschild, chorando em frente a foto de seus dois filhos que faleceram de câncer com grandes quantidades de arsênico no sangue / E Benavides/AFP/Getty

A produção do The Guardian destacou como ao mesmo tempo que o Peru teve um aumento de 60% na produção e exportação de zinco, segundo dados do Ministério de Energia e Minas do Peru (MINEM), mais da metade das geleiras do país começaram a derreter e causaram grandes impactos socioambientais.

No ano de 2022, mais protestos irromperam na mina de Inmaculada, em meio ao descontentamento das comunidades locais com a Hochschild. Na ocasião, segundo a matéria da Reuters, os manifestantes queimaram estruturas da empresa e bloquearam o acesso à mina de Inmaculada.

Mineração em Monte do Carmo

Agora, com um novo plano de mineração e mais riquezas minerais para serem exploradas, a Hochschild chega ao Tocantins. A empresa que não respeita o meio ambiente e não se importa com as comunidades e culturas locais, tem a autorização do Governo do Tocantins para realizar uma mineração “sustentável” em 82 mil hectares do nosso território.

As atividades da Hochschild devem ser constantemente fiscalizadas, tanto pelos órgãos públicos, como pela população de Monte do Carmo e de todo o estado. O Tocantins já sofre com as mudanças climáticas extremas. Neste ano, as chuvas se mantiveram até o mês de maio e, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, o inverno de 2023 em Palmas foi marcado por temperaturas acima da média. 

Naquele ano, a temperatura média do inverno foi de 28,3 ºC, 0,6 ºC acima do nível normal, que corresponde a 27,7 ºC. Além disso, a temperatura mais alta registrada foi de 39,6 ºC, um novo recorde histórico para a capital.

O primeiro mês do ano de 2024 na capital também teve mudanças significativas em comparação com o de anos anteriores. Ainda segundo o INMET, a média de temperatura de janeiro foi de 26,6 ºC, 0,5 ºC acima do normal. Já a média de temperaturas mínimas aumentou quase em 1 ºC, saindo de 22,3 ºC para 23,1 ºC. 

Além do aumento do calor, houve um aumento muito grande na quantidade de chuvas em Palmas. Janeiro de 2024 registrou 47% mais chuvas que as de anos anteriores.

Diante desse cenário, é preciso manter uma atenção redobrada na mina de Monte do Carmo e nas atividades da Hochschild, durante os próximos 12 anos de atividade da empresa em território tocantinense.

Gabriel Pinheiro

Escritor

Aluno de jornalismo

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